Quem chegou a tempo, chegou. No caso, a tempo de eu não ter desistido de divulgar este espaço abertamente. Um dos principais motivos do caráter anônimo do meu blog anterior (na edição, veja só, eu tirei o nome e o link dele desses parênteses) é que, por ser tão pessoal, eu não tinha coragem de divulgar para as pessoas próximas. Minha intenção / sonho era que ele ficasse conhecido por pessoas desconhecidas. Mas não aconteceu.
Do nada, veio Eminem em Without Me dizendo que a coisa vai ficar pesada, e que ele acabou de ajeitar todos os processos dele, aí ele manda a ex dele se lascar, em tradução livre PT-nordeste. Aí resolvi colocar isso de título, porque o que me vem hoje é isso, minha mente em estado puro de caos, fragmentação e misturas sensoriais. Poucas pessoas conseguem captar exatamente o que eu sinto ao escrever (arrisco dizer que só
, por ser feita da mesma matéria que eu. Ia ser muito bom na verdade se ela entendesse, vou torcer pra que sim). Então, lá vai a descarga.
Vontade de acordar a hora que eu quiser, demorar o tempo que quiser pra trocar de roupa. Vontade de me isolar, de tomar água e café, de sentar no computador e ler os emails que eu realmente quero ler, não os que preciso. Vontade de não ter obrigações e nem responsabilidades por um tempo.
Me sinto sobrecarregada. Achei que dava conta e que a minha nova estrutura de tempo era uma forma de garantir que não haveria sobras e nem gorduras na estrutura de trabalho/desenvolvimento mental, emocional e físico. Tento me fazer compreender: como diz Tetê (de novo), se me der tempo demais eu fico só no sofá comendo brigadeiro e vendo Friends (atualizando para os dias atuais, já que a frase foi criada há mais de 10 anos, poderia ser Modern Family ou Queer Eye). Mas, parece que descobri que se me der coisa demais, depois de um tempo eu quebro.
(Bem burra essa constatação, pois acho que todo mundo é assim).Seguindo o raciocínio do ponto anterior, eu fui, em alguns anos, de um lugar de me sentir “sub-aproveitada” (por mim mesma, tá?), para um lugar de, agora em full mode (praticamente sem tempo livre) me sentir xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente). Foi por conta do ponto de partida do sub-aproveitamento que, lá em 2019, mudei de endereço, para mais de 8 mil quilômetros de distância. A ideia era um fresh start: eu iria manter a parte boa (meu retorno à vida acadêmica) e tirar a parte ruim (a sensação de estar sempre no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas e sem me arriscar muito ou me provar. Sim, havia aí também uma questão de insegurança sobre quem eu era e se eu era “boa” nas coisas que me propunha). Aí, pronto, eu fui. A partir do momento que fui, sim, muitas coisas desenrolaram. Só que eu não imaginava que ia mudar tanto.
A sensação que eu tenho quando penso nesses últimos quatro anos é de que mudei tanto que ainda não consegui processar. Ou, até consegui processar, mas não da maneira “correta”. Tô lendo O romance luminoso, de Mario Levrero, e tenho me identificado bastante com esse processo dele de “retorno ao eu”, onde ele dá muitas voltas até (chegar?, não sei, pois ainda não tô nem na metade e o livro é bem grossinho). Mas acho que é até chegar no romance luminoso. Segundo ele já repetiu algumas vezes, é “enfrentar a angústia difusa” e “entrar no ócio” (justamente para enfrentar a angústia difusa). As duas coisas devem ter uma relação bem forte entre si e também com o material do romance. Enfim, eu tô gostando demais. Mas o ponto é que ele retorna pra tanta coisa, sabe. Ele é idoso, no livro (o autor, que inclusive oficialmente é o Jorge Varlotta, já é falecido). Mas ele retorna para sonhos, para perdas, para relações, para manias. Já eu, às vezes volto para coisas antigas, mas tenho a sensação de que preciso mesmo é voltar pra um período a princípio de 4 anos, aí depois talvez 7.
Talvez escrever aqui me ajude. Com certeza ajuda.
Até aqui eu já sinto melhora na angústia difusa.
Não sei, sinto que talvez eu fique por aqui hoje. Talvez seguir um pouco o esquema Levrero? Colocar fragmentos, mas construindo uma leitura de mim mesma? Eu disse lá em cima que a coisa ia pesar, mas achei que nem pesou tanto. Talvez o peso seja de todas as coisas juntas, não dos fragmentos. E talvez, elaborar por fragmento também faça parte da cura.
Obrigada por ler até aqui e espero sua companhia nos próximos fragmentos.
Um abraço apertado, com bastante cansaço, preguiça e confusão.



(De boa) (Pq tem foda de ruim também, mas quando falo de você é sempre foda de incrível, gênia e maravilhosa) Amo o jeito que você escreve, também acho que você diz muita coisa que eu sinto e não consigo expressar, é bom que a gente se complementa, no verso e na prosa
Amiga, você me criou um problema: ler isso me deu muita saudade de dividir coisas da vida com você. Sobre o desabafo em si, por razões diferentes, por movimentos diferentes, talvez eu sinta muito do que você também sente. E isso é doido, já que mesmo sendo pessoas diferentes (óbvio) e ao mesmo tempo tendo muitas semelhanças taurinas, ler seu sentimento é meio que uma contraprova de que "tá vendo que não é por conta disso ou daquilo que você se sente assim". Isso deixa uma grande necessidade de buscar qualé-de-mesmo ou, ainda em bom PT-baianês, "lascou!".